"Frases felizes... Frases encantadas...
Ó festa dos ouvidos!
Sempre há tolices muito bem ornadas
Como há pacovios bem vestidos."
Mario Quintana - Das Belas Frases

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

El amor después del amor

Aos poucos a respiração ofegante se acalma, o coração desacelera, a música ao fundo ressurge como que por mágica, as mãos deslizam num carinho lento sobre a pele úmida e os cabelos emaranhados.
É quando os olhares se encontram e um sorriso nasce quase sem querer, e teu olho – da cor do mar – se torna capaz de ler meu pensamento, e o mesmo acontece comigo. Aqueles segundos em que os móveis, os sons, o quarto, o universo ao redor parecem desaparecer, e só existimos nós dois e o maior sentimento do mundo.
É quando não são mais necessárias palavras, gestos, provas – é possível respirar, ver, sentir em cada poro algo que não tem um nome ou forma, mas é belo e faz bem e, principalmente, é real. Aquele momento em que se compreende de forma mais clara e verdadeira do que nunca o que tantas vezes já dissemos um ao outro. Quando três palavras se fazem presentes, pintando o ar de poesia e certeza, sem nem ao menos serem pronunciadas: eu te amo. 

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Live and let die

          Se a vida é como um livro aberto, formado por diversas páginas, é preciso compreender que estamos sujeitos a mãos e ventos capazes de rabiscá-las e virá-las.
          Às vezes o livro transforma-se em não mais que uma agenda, apenas com notas diárias, sem grandes histórias ou personagens. Então, um dia, aparece alguém e escreve um poema em uma, duas páginas. Colore o fundo com giz-de-cera, desenha arabescos e flores, dá um jatinho delicado de perfume. Embeleza o livro. Dá vontade de ficar para sempre olhando e respirando aquele único pedaço de papel. De escrever outros poemas e belezas no livro desse alguém. De citá-lo em cada próxima página que vier a seguir. Então, de repente, os textos encantadores transformam-se em não mais que rabiscos, palavras mal escritas, preto no branco, preto e branco, cinza. No lugar da beleza, a sensação de páginas arrancadas.
          A verdade é que, em momentos assim, é difícil iniciar um próximo texto, bonito ou não. A única coisa que faz sentido é voltar algumas páginas atrás e contemplar o que passou, e é possível fazê-lo por um tempo, até descobrir que isso se torna mais doloroso que todo o resto. É aí que se aprende uma das mais lições mais importantes na vida (mas que, curiosamente, sempre precisa ser reaprendida, pois a esquecemos com absurda facilidade) – as páginas podem ser viradas. Algumas pessoas podem acompanhar-nos por muito tempo, mesmo que apenas como um lembrete no canto de uma ou outra folha ao longo do livro. Outras vão se apagando e suas passagens tornam-se desbotadas, esquecidas entre outros apontamentos. Há aquelas que escrevem com mais força, e muitas folhas depois, ainda é possível ver resquícios de sua grafia lembrando-nos de sua existência. Mas sempre, sempre, há uma nova página em branco, esperando ansiosa por ser descoberta.
 É preciso que se tenha a coragem de viver sem medo do que virá pela frente. Mas, caso os próximos capítulos não sejam belos, há que se ter a sabedoria de deixá-los morrer.

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Obrigada, Paul.

Lembro de um episódio da série Anos Incríveis, em que a professora pergunta aos alunos de 12, 13 anos, quem eram os responsáveis por ensinar-nos sobre valores.
      ‘A família!’
      ‘A escola!’
      ‘Os amigos!’
      ‘Quem mais?’ – questiona a professora.
Após um tempo em silêncio, um menino fala timidamente:
      ‘Os Beatles?!’

Eu cresci ouvindo as músicas de quatro amigos de uma cidadezinha inglesa que formaram uma banda – porque era o que amigos de cidadezinhas inglesas faziam naquela época – e mudaram a história.
Com essas músicas, aprendi sobre amor, amizade, sonhos, melancolia, tristeza, dor de cotovelo, paciência, beleza. Tendo essas músicas como trilha sonora eu vivi momentos importantes, chorei, gargalhei, abracei amigos e descobri que só precisava de uma ajudinha deles pra que tudo ficasse bem. Descobri que amor é, senão tudo, a coisa mais importante de que se precisa. Que dar as mãos pode ser mais intenso que um beijo, que deve-se sair e brincar toda vez que o céu estiver azul. Aprendi sobre a paz e a dar a ela todas as chances possíveis. Ouvi sobre um mundo sem religião, céu, inferno ou países, e desejei-o desde então.

Domingo, 07/11, eu vivi uma das experiências mais incríveis da minha vida: vi um desses quatro amigos, Paul McCartney, tocando muitas dessas músicas em Porto Alegre. Só quem tava lá pode entender exatamente o que eu senti, ouvindo canções compostas há décadas unirem uma multidão inteira e diferentes gerações num mesmo sentimento.
Vi esse cara, considerado o maior músico da atualidade, cantando junto no coro de ‘ah, eu sou gaúcho’, chamando fãs pro palco e se divertindo tanto quanto aqueles que foram vê-lo. Alguém que compreendia o quanto era importante pra cada um ali, e fez questão de tornar tudo ainda mais bonito. Mais que isso, alguém com uma história muito bela, cheia de altos e baixos, que deixou transparecer em cada nota o quanto ama o que faz.
Com as músicas Here Today e Something, homenagens aos colegas de banda já falecidos, era quase possível sentir John e George abraçando aqueles que, como eu, choravam e sorriam e cantavam ao mesmo tempo. Soa piegas, mas foi o que eu senti.
Em outras músicas, como Drive My Car ou All My Loving, a sensação de voltar no tempo do iêiêiê, lá pelo começo dos anos 60, e compreender perfeitamente como se sentiam os beatlemaníacos, quando o termo foi criado.
A carreira solo de Paul também é admirável, afirmando e não deixando espaço pra contestação: ele é um gênio. Ver todo mundo cantando também essas músicas, compostas após os Beatles, foi um sinal de respeito que me deixou imensamente feliz.
Nesse show, eu aprendi na prática o poder de união e mudança da música. Vi completos desconhecidos compartilharem o mesmo espaço durante três dias, na fila, como se fossem amigos de anos. Avós, pais e filhos dividindo a expectativa de ver o ídolo que representava o mesmo para cada um, independente da idade. Um senhor de cabelos brancos dançando música eletrônica antes do show, e uma guria da minha idade chorando assim que as luzes se apagaram. Um coro de 50 mil pessoas cantando como se fossem uma só o refrão da música que nos diz pra ‘pegar uma canção triste e torná-la melhor’.
Já se passaram quatro dias desde o show, mas ainda paro, lembro e meu olho enche de lágrima. Repito – só quem estava lá consegue compreender a grandiosidade daquelas três horas de absoluta magia traduzida em canções.
Obrigada, Paul.

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Let it be. Let it be. Let it be. Virou um mantra, uma oração. Consolo, talvez. Let it be. Nesses dias de incerteza, era o mais perto que chegara de uma resposta, um caminho. Deixa estar, fecha o olho, respira fundo, deixa estar. A quase-resposta servia pra boa parte das perguntas que batucavam na mente e no coração: ‘O que vai ser? E se? E se não? Por quê? Como? Quando? Sim? Não?’ – Let it be.
Podia ser considerado comodismo, sim, mas tinha medo das respostas verdadeiras. Aquelas, com palavras densas, coração-nós-amor-sempre-nunca-mais. Sabia que precisava ouvi-las, saber o caminho a seguir, decidir. Mas o medo era maior, então a Mulher Madura Bem Resolvida dava lugar à Menina Chorona Que Não Sabe O Que Fazer. Só sabia deixar quieto, esperar que o tempo colocasse tudo em seu lugar, que o mundo seguisse adiante, agarrar-se à cinza angústia de aguardar por decisões que a envolviam, mas nas quais não tinha influência.
Let it be, repetia. 
Tudo se ajeita.

sábado, 2 de outubro de 2010

Bastantes

Acredita em mim, não é complicado. Não precisa ser. Se a gente quiser, pode ser leve, igual folha dançando com o vento. Porque sabe, gostar só é bom quando é leve. Fecha o olho, imagina a folha. Ela não se preocupa, ela não pensa no que passou, ela é só folha e o vento é só vento, e eles dançam, e é só. E dançam porque é bom, porque faz bem, e principalmente porque se deixam levar, soprar, dançar. É essa a beleza: deixar-se levar.
A verdade é que eu também tenho medo, que digo a mim mesma antes de dormir – naquela hora em que fecho os olhos e tento lembrar teu rosto – pra ir com calma, não me adiantar, não fechar os olhos e tentar lembrar teu rosto, que esperar demais não é justo comigo nem contigo, que talvez não seja nada, que talvez não haja vento algum com que se dançar. É mais ou menos aí que teu rosto se forma, e com ele teus detalhes, jeitos, frases, plurais, cores, sopros levinhos, e eu esqueço de tudo e sorrio, que eu sou de libra, gosto do que é bonito, e é mais bonito imaginar folha-voando-feliz que folha-parada-triste. 
Aí durmo, e sonho contigo, e no sonho tudo é bonito e simples, e é leve. Leve, igual folha dançando com o vento. 
Quisera eu saber com o que sonhas. 
Quisera eu ter coragem de chamar-te pra dançar. 

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Teia de aranha (ou Presente do Sam)

Pra quem, como eu, não acredita em Deus, destino ou qualquer força que controle a existência e os acontecimentos da vida, há qualquer coisa de mágica no modo como as coisas acontecem, em como as coincidências nos moldam, influenciando diretamente em quem somos.
É incrível parar pra refletir sobre quem éramos há uns 5, 6 anos, e quem somos hoje. O que antes era corriqueiro vai se moldando e modificando, uma série de acontecimentos te fazem mudar de pensamento, olhar e perspectiva sem perceber. Quando vê, o acaso, as decisões tomadas aqui e ali, te tornaram alguém completamente diferente do que poderia ter sido se houvessem outras escolhas lá atrás.

O mais interessante de tudo isso são as pessoas, que entram e saem de nossas vidas, regidas, muitas vezes, por esse misterioso acaso. 'Maria namora João, que é amigo de José. Um dia Maria se apaixona por José, larga João, que, muito triste, vai a um bar. Lá ele conhece Fátima, que descobre ser o amor de sua vida, com quem vai ter três filhos e viajar a Europa visitando museus. Maria, numa janta com a família de José, conhece um amigo dos sogros que a oferece um estágio, e um dia será uma fotógrafa muito bem sucedida'. Entenderam? O que hoje nos parece algo sólido, verdadeiro, pode ser só uma passagem através da qual chegaremos a algum outro lugar, que por sua vez nos mostrará outras muitas possibilidades de caminhos para seguir. E as pessoas, amigos-vizinhos-parentes-chefes-amores-conhecidos, são elas a parte mais relevante e importante dessa árvore cheia de ramificações a que chamamos vida. É bonito perceber que grande parte do que somos é um simples fruto da coincidência. Maria, por exemplo, podia ter ficado doente no dia daquela janta, e talvez hoje trabalhasse num escritório de contabilidade.

Não deve-se confundir a admiração pelo acaso com comodismo. Se não há um destino pré-determinado, pode-se escolher que caminhos trilhar. É perigosíssimo tornar-se vítima das circunstâncias, entrar no pensamento de 'deixa estar, tudo se ajeita'. Não tem sentido aquietar-se quando o assunto é a própria vida. Entretanto, quando há tanta beleza e mistério no que não controlamos, é incrível olhar pra si mesmo e ver até que ponto escolhemos e a partir de quando somos pura coincidência.

PS 1: Desculpa ficar tanto tempo sem postar nada, mas o tempo, ah o tempo...
PS 2: Sam, esse texto (escrito correndo antes de ir pra aula) é pra ti, pelo teu aniversário. Acho que tu é uma das pessoas que melhor exemplificam as ramificações na minha vida, e só me faz achar tudo isso ainda mais bonito. Parabéns, te adoro :)

sábado, 21 de agosto de 2010

About me

Oi!
Meu nome é Laura, nasci em Rosário do Sul, um pequeno povoado próximo ao fim do mundo, há quase 18 anos. Há tempos pensava 'bá, tenho que fazer um blog, arranjar um lugar pra guardar esses textos que eu escrevo entre as páginas dos cadernos de aula'. Eu e a Karol, minha amiga, já até planejamos um blog que nos deixaria famosas, ricas e absolutas. Não o fiz antes por preguiça, falta de tempo e de um nome bom. Não que agora a preguiça tenha se esvaído e o tempo aumentado, mas achei o poema do Quintana em uma das minhas agendas antigas e decidi que era um nome legal, melhor que 'sweetlittleunicorns' ou 'textosdalaurinha'. Pois bem, agora tenho um nome, criei a página, deixei bonitinho e tudo o mais.

No estilo Amelie Poulain, aí vai uma pequena apresentação de mim:
Gosto de: música, livros, cheiro de carro saído da lavadora-de-carros, amigos, cachorro-quente do bar do Tiririca, cálculos&química, ir pra faculdade, cavalos, dormir, filmes, dormir vendo filmes, organizar tudo em caixinhas, ler sobre signos, cheiro do meu perfume.

Não gosto de: multidões, touradas, strogonoff de frango, gente burra, filme de bandido/morte, sentir frio, cheiro de pipoca queimada, gente com som mega-motherfucker-potente no carro (a menos que não seja usado), acordar antes que o sono acabe, verduras/legumes e coisas verdes em geral, coca-cola, barulho.

Estudo engenharia química, devo enlouquecer antes do fim do curso, mas pra isso inventaram as HP's. Leio/escrevo desde os dois anos e meio, estudo inglês desde os quatro, e adoro quando minha vó começa a contar pra todo mundo sobre como eu era um prodígio e li - na ponta dos pés - o que dizia no fogão novo dela. Mas quando ela começa a contar essas coisas, eu faço cara de 'ai, exagero dela' e me escondo na cadeira mais próxima.

Adoro música, por isso já tentei tocar violão, flauta, violino, gaita de boca e teclado. Aprendi a tocar o começo de 'parabéns a você' no violão, 'yesterday' na gaita (olhando no papelzinho) e 'all my loving' - ou algo parecido com isso - no violino. Por motivos óbvios, desisti da carreira musical e da vida de sexodrogas&rock'n'roll. Mas ainda me sobraram ouvidos, que eu uso pra ouvir de tudo um pouco. Mas só fazem parte do conjunto 'tudo' as coisas boas e agradáveis.


Não lembro de já ter ficado mais que uma semana sem estar lendo algum livro, e leio muita coisa, mesmo. Agora tô lendo uma coletânea do Caio Fernando Abreu, um dos meus autores preferidos. Mas isso é assunto pra outro post.


Sou libriana, com ascendente em libra. Falando assim, o leitor diz 'bóó, a guria entende alguma coisa'. O leitor está enganado. Eu pesquiso e leio um monte sobre astrologia, mas não entendo quase nada do assunto. Mas tenho amigos que entendem e explicam pra mim, e no mais é isso. Não muda minha vida, mas é interessante poder analisar as pessoas e tirar conclusões baseadas na data de nascimento.

Bom, é isso. Claro, tem muito mais coisas a meu respeito que talvez eu deva falar sobre. Tem muitas, muitas coisas sobre o mundo sobre as quais eu vou falar. Mas isso eu vou fazendo aos poucos, dia-sim-dia-não, talvez mais, talvez menos, ainda não sei. Vai da vontade, da criatividade, e essas várias variáveis que não se controla. Espero que gostem, indiquem pros amigos e me tornem uma webstar. Ou só leiam, mesmo :)