Lembro de um episódio da série Anos Incríveis, em que a professora pergunta aos alunos de 12, 13 anos, quem eram os responsáveis por ensinar-nos sobre valores.
‘A família!’
‘A escola!’
‘Os amigos!’
‘Quem mais?’ – questiona a professora.
Após um tempo em silêncio, um menino fala timidamente:
‘Os Beatles?!’
Eu cresci ouvindo as músicas de quatro amigos de uma cidadezinha inglesa que formaram uma banda – porque era o que amigos de cidadezinhas inglesas faziam naquela época – e mudaram a história.
Com essas músicas, aprendi sobre amor, amizade, sonhos, melancolia, tristeza, dor de cotovelo, paciência, beleza. Tendo essas músicas como trilha sonora eu vivi momentos importantes, chorei, gargalhei, abracei amigos e descobri que só precisava de uma ajudinha deles pra que tudo ficasse bem. Descobri que amor é, senão tudo, a coisa mais importante de que se precisa. Que dar as mãos pode ser mais intenso que um beijo, que deve-se sair e brincar toda vez que o céu estiver azul. Aprendi sobre a paz e a dar a ela todas as chances possíveis. Ouvi sobre um mundo sem religião, céu, inferno ou países, e desejei-o desde então.
Domingo, 07/11, eu vivi uma das experiências mais incríveis da minha vida: vi um desses quatro amigos, Paul McCartney, tocando muitas dessas músicas em Porto Alegre. Só quem tava lá pode entender exatamente o que eu senti, ouvindo canções compostas há décadas unirem uma multidão inteira e diferentes gerações num mesmo sentimento.
Vi esse cara, considerado o maior músico da atualidade, cantando junto no coro de ‘ah, eu sou gaúcho’, chamando fãs pro palco e se divertindo tanto quanto aqueles que foram vê-lo. Alguém que compreendia o quanto era importante pra cada um ali, e fez questão de tornar tudo ainda mais bonito. Mais que isso, alguém com uma história muito bela, cheia de altos e baixos, que deixou transparecer em cada nota o quanto ama o que faz.
Com as músicas Here Today e Something, homenagens aos colegas de banda já falecidos, era quase possível sentir John e George abraçando aqueles que, como eu, choravam e sorriam e cantavam ao mesmo tempo. Soa piegas, mas foi o que eu senti.
Em outras músicas, como Drive My Car ou All My Loving, a sensação de voltar no tempo do iêiêiê, lá pelo começo dos anos 60, e compreender perfeitamente como se sentiam os beatlemaníacos, quando o termo foi criado.
A carreira solo de Paul também é admirável, afirmando e não deixando espaço pra contestação: ele é um gênio. Ver todo mundo cantando também essas músicas, compostas após os Beatles, foi um sinal de respeito que me deixou imensamente feliz.
Nesse show, eu aprendi na prática o poder de união e mudança da música. Vi completos desconhecidos compartilharem o mesmo espaço durante três dias, na fila, como se fossem amigos de anos. Avós, pais e filhos dividindo a expectativa de ver o ídolo que representava o mesmo para cada um, independente da idade. Um senhor de cabelos brancos dançando música eletrônica antes do show, e uma guria da minha idade chorando assim que as luzes se apagaram. Um coro de 50 mil pessoas cantando como se fossem uma só o refrão da música que nos diz pra ‘pegar uma canção triste e torná-la melhor’.
Já se passaram quatro dias desde o show, mas ainda paro, lembro e meu olho enche de lágrima. Repito – só quem estava lá consegue compreender a grandiosidade daquelas três horas de absoluta magia traduzida em canções.
Obrigada, Paul.
Obrigada Paul mesmo!
ResponderExcluirLaura, realmente teu texto me fez relembrar de toda a minha trajetória beatle até o show do McCa, que foi o evento mais importante da minha vida até agora, e que com certeza eu guardarei pra sempre no meu coração. Esse show não foi apenas um show, e sim uma chance de reflexão, um pedaço de paz nesse mundo que anda tão violento, uma demonstração de que "nós temos salvação"!
Conseguiste traduzir o sentimento de 50 mil pessoas que presenciaram a vinda desse cara, baita músico, baita homem! Valeu
Eu ainda procuro palavras para explicar o que foi o show e não acho quais são elas... Simplesmente foi algo além da minha compreensão simples. Só sei dizer: foi incrível e único.
ResponderExcluirE bah Laura, tu escreve bem, hein! Tu conseguiu definir melhor o que isso significou para todas aquelas gerações que presenciaram um evento dessa grandeza.
E o pessoal da fila foi incrível, quero rever todos eles, pois o "pré-show" fez parte de toda essa saga inesquecível!
Que aquela cena do final do show seja igual a faixa The End: que seja um prenúncio para que ainda virá algo mais para alegrar nosso futuro! =D
Sério, tu transcreveu muito bem os sentimentos de todos ali! Cito o Tremere: "simplesmente foi algo além da minha compreensão simples. só sei dizer: foi incrível e único".
ResponderExcluirJamais imaginei que a gente teria a chance de participar do evento de alguém tão importante na história da música mundial. Mágico é pouco pra descrever isso.
As tuas ótimas palavras dizem muito bem o que foi o show e seus momentos marcantes (acho que caberia melhor memoráveis) e também interessante é o que Paul e os Beatles nos ensinaram com suas bonitas letras, que em diversas situações tem algo para nos dizer e ensinar.
ResponderExcluirE o que dizer do pessoal da fila então, isso sem dúvida também foi um show à parte! :D